24 de ago. de 2012

Serei Atriz!



O tempo vai passando e nos escancarando, deixando explícito a composição dos passos que um dia ele sugeriu para nossa caminhada. É aí que percebemos as manias, as vontades, os gostos, gestos, cores, os ventos... parece que tudo foi se costurando, desde menina os traços de atriz em mim já se desenhavam e quando moça já estava decidido: serei atriz. A aflição de quem anseia em viver daquilo que lhe traz gosto pela vida quase me sufoca, me perco em tantas ideias postas em inúmeros papéis, que a cada desenho de cena que salta a mente, é um derramar de mim que não cessa, cada pessoa que observo e cada situação, tudo é composição, é caminho. Percebo que a vida me foi muito generosa,me ensinou a reproduzir o cotidiano.
Aqui posso me valer das palavras de Thiago de Melo que ultimamente tem me confortado a alma.
Thiago de Mello
Escrevi no chão do outrora
e agora me reconheço:
pelas minhas cercanias
passeio, mal me freqüento.
Mas pelo pouco que sei
de mim, de tudo que fiz,
posso me ter por contente,
cheguei a servir à vida,
me valendo das palavras.
Mas dito seja, de uma vez por todas,
que nada faço por literatura,
que nada tenho a ver com a história,
mesmo concisa, das letras brasileiras.
Meu compromisso é com a vida do homem,
a quem trato de servir
com a arte do poema. Sei que a poesia
é um dom, nasceu comigo.
Assim trabalho o meu verso,
com buril, plaina, sintaxe.
Não basta ser bom de ofício.
Sem amor não se faz arte.
Trabalho que nem um mouro,
estou sempre começando.
Tudo dou, de ombros e braços,
e muito de coração,
na sombra da antemanhã,
empurrando o batelão
para o destino das águas.
(O barco vai no banzeiro,
meu destino no porão.)
Nada criei de novo.
Nada acrescentei às forma
tradicionais do verso.
Quem sou eu para criar coisas novas,
pôr no meu verso, Deus me livre, uma
invenção.

Por Juliene Lellis