6 de mar. de 2013

DIÁRIO DE BORDO: Zé Vigia Visita Manari-PE

 

 

Por Anair Patrícia:

Depois das terras mineiras lona na bolsa, figurino na mala, asas nos pés e simbora “andar por esse país”. Receio de dormir em posto de gasolina, mas “sigo o roteiro mais uma estação”: MANARI-PE.  Escala em Brasília com destino ao sertão pernambucano e nesse intervalo uma rápida estadia na capital Recife.

No bicho de ferro de asas e turbinas o medo foi grande, o tal do avião lá em cima sacudiu tanto que me revirou o estômago, quando pousamos em Recife o alívio foi tamanho. Na pousada, que era toda enfeitada com artesanato do lugar, nós podemos enfim repousar. Corpo alimentado e ansiedade pulsando, fomos logo de manhã, caminhando pra rodoviária, conhecemos um taxista, que tinha muita história pra contar! Do seu menino, ainda criança, que doente ficou, e que o Sr. Doutô nem parou pra olhar, vixi Maria! O Taxista falava do doutô do plano de saúde, nos relatou ainda que melhor atendido o menino foi quando levado a UPA, onde o atendimento é “gratuito”, estranhei, pois nas bandas de cá, quem procura o SUS, aiai SUSpira, de tanto esperar. Chegando na rodoviária o cheiro de comida típica: carne  de bode, cuscuz, tapioca, charque... E a lojinha de artesanato com sandália de couro, blusas estampadas com Luiz Gonzaga e sombrinhas de dançar... O povo todo ligeiro pra falar e de um gentileza, alegria e simpátia de estranhar, cheguei a pensar que estava em outro país “Ai, ai, ô povo alegre”. 


No meio da viagem, quando eu já dormia, após olhar por muito tempo a paisagem seca pela janela, fui acordada na parada em Caruaru por três cabras que anunciavam dentro do ônibus: -Olha a tapioca fresquinha! -Água gelada! churros de chocolate e doce de leite  -pipoca quentinha...-Taque sal nessa pipoca, pra esse povo comprar água, menino! Engraçado demais! Eu parecia estar num cenário de cinema brasileiro! Nesse momento num pude negar, era turista mesmo, doida pra fotografar...



Adentrando esse estado atravessamos agreste até a chegada no sertão, no horizonte a paisagem seca, mas com algumas árvores resistentes pontuando o verde, uma contradição! Dentro do ônibus, um zoinho azul, muito atento e conversador, nos contava um pouco de lá e perguntava um tanto de cá. O nome do menino é que num lembro agora, mas nos deu mexerica e muita vontade de chorar, quando nos disse que queria ser artista e ir embora com a gente pra aprender a atuar. A mãe dele nos contou que por um breve tempo morou nas Minas Gerais e o menino logo completou que ele era mineiro e pernambucano, havia herdado a inteligência das Minas gerais  e modo de Pernambuco. Na hora que juntamos as bolsas pra descer do ônibus, o menino ligeiro tentou se esconder atrás de mim e se cobriu com a blusa de frio, mas tua mãe pontuou: Vem pra cá menino! O motorista do ônibus muito prestativo parou pertin do posto Geraldo, onde ficamos hospedados, ajudou a descer mala e foi bem educado.

A noite já havia chegado na nossa chegada a Manari, sorriso simples e muita simpatia tinham as moças dali, moças do bar que nos auxiliaram para ao nosso quarto chegar. Cada dupla pro seu canto Kely e eu quarto 9, Dani e Joe quarto 12 Jú e Lú dormitório 7. Malas guardadas e banho tomado fomos correndo pra conhecer o povoado, a praça é grande e iluminada, as ruas com esgoto e mal cheiro, a casa de show que anunciava forró, só tocava uma música esquisita que nada lembrava sanfona, triângulo ou zabumba. O encontro com o povo de sotaque cantado foi bonito, não paravam de olhar nossos cabelos esquisitos. “Teu cabelo é peruca?” a moça da sorveteria questionou – Num é não pode puxar! – Juliene exclamou. Todos ansiosos pra conhecer o moço da ong, mas que só poderia nos encontrar no dia seguinte, quando o sol viesse brincar. Antes de dormir ligar o ar condicionado, pois eita terra quente, o suor na testa fica estampado.

No dia seguinte acordar cedinho, pois durante a viagem no ônibus foi dito que havia uma feira muito boa no próximo distrito. – Para ir a Itaíba só de carona, não tem transporte pra lá não! – Disse o vigia do posto com muita atenção, moço simpático e conversador. Tomamos café da manhã e conheci o saboroso suco de cajá, e com comida no papinho pé no caminho. E num é que encontramos com o motorista que ali nos deixou na noite anterior?! A cena foi engraçada, aquele bando de gente de cabelo esquisito correndo atrás do ônibus, o motorista parou, pensou, mas não pode nos levar, disse que ele num podia vender o bilhete e que carona não podia dar, o ônibus tinha aquelas maquinas que podia nos filmar. Então seguimos asfalto a fora na espera de um carro, e eis que surge o primeiro que pra nossa surpresa resolveu nos levar. O moço de nome Gilberto contou sua história. O povo de lá tem sempre uma história pra contar! Ele nos disse que era policial em Manari, formado em jornalismo, quase foi padre e trabalhava com política na cidade onde mora (Arco Verde). Mas o que mais chamou minha atenção foi o fato dele ter namorado ,noivado e casado em 21 dias e olho sô o casório já dura 24anos! O papo foi bom e em Itaíba ele nos deixou, tentamos pagá-lo, mas ele não aceitou. A chegada à feira pra mim foi uma decepção, não tinha nada da terra nem artesanato, nem comida, nem uma manifestação. Tudo parecido ter vindo da China, sem cara de sertão. Só no finalzinho podemos ver uma barraca que tinha doce de jaca, água de coco e queijo do bão. Nossa ida lá tinha um objetivo, a gente precisava de pétalas de rosa pra cena da Salomé, rodamos feira e nada, daí nos disseram que flor natural lá não tem não ,Só de plástico as flores no sertão. A Juliene, muito curiosa questionou – E quando alguém morre como faz no caixão? – A moça da venda retrucou –  Flor de plástico na ornamentação! – Isso me tocou demais, quase chorei. Num tem cheiro de flor, e as moça então não ganha rosa do moço namorador? Mas “mandacaru quando fluora na seca é um sinal que a chuva chega no sertão...” e pras bandas de lá já num chove há um tempão.

A kely conseguiu outra carona para nos levar de volta a Manari, voltamos numa estrada branca, isso me lembrou a infância, o tirana “todin” na carroceria sentindo o vento atiçar as cabeleiras. Nesse instante vi de perto as plantações de palma pro gado magro comer, carro de boi passando com um bode dentro e, na paisagem, a secura reinando. Mas no finalzinho da tarde, majestoso, o sol se pôs e o céu de rosa corou, bonito as nuvens e o céu todo “coradin”.


E nessa tarde fomos também a procura do moço Celso da ong Óasis, moço bom e alegre que nos recebeu de riso largo, sua Senhora também muito prestativa e atenciosa logo logo nos abraçou e de novo subimos numa carroceria pra conhecer mais um “pedacin” da Manari. Direto pra ong fomos e chegando lá o primeiro que vi foi o Neném, menino claro, queimado de sol, riso amarelado e muito amável... Dançarino arretado, me ensinou o xaxado! Foi lá que vi pela primeira vez um caju de verdade! E provei o tal umbu. O espaço é amplo e bem ajeitado. De lá voltamos bem entusiasmados, no outro dia seria o dia da oficina e a notícia era que todo mundo “tava” convidado. Pra nossa satisfação, e imensa alegria, não parava de chegar gente pra oficina pretendida, gente de todas as idades e com muita vontade de nos mostrar o que sabiam fazer bem. As meninas mostraram um pouco do frevo, os moços tocaram e cantaram boa música, a menina da cozinha, que todo sábado serve sopa pra meninada, me perguntou quando me viu empolgada: “Tú é nordestina num é?” Acho que disse isso por me ver pulando pra lá e pra cá tentando ter a agilidade de quem sabe dançar o frevo bonito daquele lugar. Mais de quarenta e cinco pessoas encheram o salão, a roda era tão grande, a vontade de todos também. No exercício das fotos eu não consegui segurar, chorei e me emocionei com a simplicidade e orgulho dos menino “homi” e das meninas “muié” de serem nordestinos e nordestinas, na hora da música que num dei conta mesmo. A ideia era a Tirana ensinar uma música pra eles e eles nos ensinarem uma música que fosse de lá, em coro e sem combinar começaram a cantar: “Quando olhei a terra ardendo...” era Asa Branca do Gonzagão, ahhh que agora que escrevo volto a engasgar, o choro fica preso só de recordar. No ensaio final eu filmava e a tela tremia, os Tiranos tudin com água no olho seguiam tocando pro coro embalar: “eu perguntei a Deus do céu ai porque tamanha judiação...” Combinamos com todos que no dia seguinte nos encontraríamos na praça da região pra cantar no cortejo da apresentação.


A apresentação estava marcada para o domingo de tarde, de manhã fomos pra caatinga, o moço Celso queria nos levar pra conhecer o umbuzeiro e o cajueiro, gente do céu! Vi tanta árvore resistindo ao sol quente e terra seca. De novo quis chorar, lembrei-me das histórias de Graciliano Ramos, Gonzagão e as imagens que sempre passam sobre o sertão. A tarde já chegava quando voltávamos a Manari, Kely e eu estávamos bem nervosas, Dani passou os figurinos, Lú e Jú afinaram os instrumentos e fomos a praça pro povo encontrar. Vixi Maria! só Neném e sua amiguinha Pequena que estavam lá! Como havia um casório no mesmo dia, metade da cidade estava na igreja e a outra metade devia tá esperando o sol baixar. Começaram a chegar às 18h,  a lua já despontava por detrás da igreja, nos reunimos com os participantes da oficina para dar inicio ao cortejo, coração na boca, explosão de alegria, entoamos de peito aberto Asa Branca e Embarca, chegando a roda fizemos nosso trabalho. Ao término, recebemos o belo presente de cinco músicos que tocaram as canções de Gonzagão e do pai do cantor, um poeta que muito me emocionou.

Trabalho feito, mas carrego a certeza que lá aprendi muito mais do que pude ensinar. Sobre simplicidade, gentileza, alegria, humildade... lá o povo se ajuda mais, mesmo na vida sofrida de seca e fome não falta um sorriso e uma delicadeza. O orgulho de ser pernambucano, nordestino e sertanejo é de arrepiar... Mais uma vez choro, só de lembrar, mas não é um choro de tristeza, e sim de alegria, é pra esse povo que eu quero atuar, trocar com eles, passar a minha arte e aprender a dançar, ouvir e mais um tanto de trem... aiai


Por Daniela Rosa:

Eu acho gostoso acordar cedinho pra viajar. Agora viajaremos pra um estado que eu nunca fui e sempre sonhei em ir. No caminho do aeroporto teve trânsito ruim, a gastrite ataca, pois imagino que posso perder o voo!
Encontrar os parceiros de trabalho com alegria! Dar um” hoje não” na Kely.
Me sinto importante na fila para despachar a bagagem. Deve ser algo comum no aeroporto, mas pra mim é o máximo exibir nossos instrumentos, nossa bagagem grande, estranha... Fizemos gracinha, rimos a toa!
A última novidade: um trambolho de uma lona, pesando mais de 30 quilos! E lá vai ela toda importante pra viajar de avião!


Também adoro falar que temos réplicas de armas. A gente fala meio sem graça, é engraçado!
Coisa boa é conviver com gente boba! Graças!!!
Conexão em Brasília. Conferi o relógio, era horário de Brasília.
Claro, alguns dos integrantes comentam sobre o lanche do avião.
O avião de Recife dá problema antes de decolar (graças a Deus que não estávamos voando) Nesse momento acho engraçado, mas começo ter um arrependimento de ter resolvido viajar de avião. Mas enfim, voamos para Recife! Eita ansiedade danada!
Chegamos em Recife, que calorzinho gostoso. Que sotaque gostoso. Um medo de ter algum problema nas reservas de hospedagem, de sermos enganados, assaltados, sei lá! Porém esse povo pernambucano é bom demais!
E ainda nessa noite, encontro com uma amiga mineira do nada!
Hora ou outra alguém puxava uma música do Alceu Valença, do Gonzagão....
Repousamos, amanhã é dia de viagem novamente...

Viagem de Recife para Manari...
Agora que pra mim começa a aventura!
Agora  vamos viajar pra longe da capital, onde é difícil o acesso às coisas básicas ...
Rodoviária....
Almoçar cuzcuz, feijão de corda...
Vamos pegar o ônibus.  É diferente... Vendedores de mexerica
E vamos para o sertão de Moxotó! O taxista disse que o tá tão quente que milho lá já sai da plantação em pipoca.
Nas placas os nomes das cidades  que eu só conhecia pelas músicas ou filmes...
Enfim, paramos na “Capital do Forró”, a cidade de Caruaru! De repente, entra no ônibus vendedores, que para alegria nossa, vendiam “a melhor tapioca”, milho verde, churros, batatinha frita... Comi milho verde e tapioca de queijo.
Pegamos mais estrada. A paisagem vai mudando realmente, é seca. Tem lixo. Vemos a carcaça do boi que morreu...
Arcoverde, a cidade mais desenvolvida pras bandas de Manari. Hora do jantar: macaxeira, cuscuz...
Busco pétalas de rosa pra comprar , não encontro...
Voltamos pro ônibus para prosseguir a viagem. O ar condicionado do ônibus era tão gelado, que alguém disse “Vamo embora na geladeira de rodas!”
No ônibus, um presente, o menino Pedro. Esperto demais. Engraçado demais. Disse que ia trabalhar com a gente no teatro. O salario poderia ser de 1 real por dia, segundo ele...
E assim, chegamos em Manari!

Por Luciana Araújo:

Essa viagem, na verdade, começa bem antes do dia 21/02, quando embarcamos para Pernambuco. Começa com o que a gente chama de pré-produção. Pesquisar, orçar, fazer contatos nas cidades, comprar passagens de avião e ônibus, reservar hotéis em Recife e Manari, fazer material de divulgação, enviar material de divulgação, dentre outras infinitas coisas que nós, atores, precisamos fazer, além de atuar. Bom, por sorte ou destino, a Dani achou o Paulo Celso, da Associação Oasis lá de Manari, que nos apoiou nessa jornada!

E Agora... as expectativas!

Passagens, ok. Mala, ok. Violão, ok. Figurino, Cadê? Aaah, tá com a Dani! Ok. Pandeiro, ok. Viola Spolin, ok. Saímos cedo de casa rumo ao aeroporto de confins. Vinícius, meu irmão, levando, num pequeno pálio: Eu, com as passagens, ok, a mala, ok, o violão, ok, pandeiro e a viola, ok e ok. Kely, com a mala gigante, que segundo ela era por causa do figurino do Zé do Cangaço, mas achei mesmo era que o Muzzi tava lá dentro. E, por último, Ju e sua asa, que não cabe em lugar nenhum, coitada.
 
No aeroporto, todos chegando, e o medo do excesso de bagagem aumentando! Pois, ainda tinha a Laurinda, nossa Lona, que tivemos que pesar antes e mandar fazer uma capa, tudo isso pra passear no nordeste! Muito chique, a Laurinda. Acreditam que não me deixaram levar a viola Spolin na case? "Amenheceu, peguei a viola, botei na sacola e fui viajar"... Foi mais ou menos isso, mas sem sacola, com ela na mão mesmo, pra lá e pra cá!

O primeiro vôo com conexão em Brasília foi tranquilo, chegamos lá e tomamos um choop, né, kely? O suficiente pra me deixar com sono e deixar a Kely doida pra testar as poltronas flutuantes do avião. Bom, eu explico. É que logo no vôo com destino à Recife tivemos um problema de pressurização, que atrasou mais de uma hora a nossa chegada. E, enquanto eu morria de medo do avião dar problema lá em cima, a Kely falava “é hoje que vamos fazer um pouso forçado na água e ver se essas poltronas flutuam mesmo”. Não satisfeita, ainda lembrava da tragédia dos Mamonas Assassinas, falando que a Tirana ia morrer tentando chegar em Manari! Aí, nessa hora eu peguei a viola (que todo mundo pensa que é um violino) e comecei a tocar, igual no Titanic. Na verdade, essa parte da viola não teve, eu que acrescentei pra ficar mais legal – Como Joe ensinou! Rsrs...

Enfim, chegamos em Recife, às 19h da noite. Mesmo cansados, só descarregamos as bagagens na pousada – LINDA – e pegamos um ônibus pra OLINDA! Linda também... Foi uma visita breve, suficiente pra encontrar Elis – amiga da Dani, e de Belo Horizonte – que foi nossa guia turística! Graças a ela pudemos aproveitar bem mais o pouco tempo que tínhamos e conhecer as ruas lindas, o mirante, e comer espetinho com vinagrete e farofa. Ah, Olinda, sempre quis te conhecer! Como deve ser esse lugar de dia? Só dá próxima vez...

No dia seguinte, acordamos cedo pra aproveitar a manhã, pois o único ônibus com destino a Manari sairia 13h30 da rodoviária. Na praia da Boa Viagem a diversão foi a super câmera fotográfica, a prova d’água, que meu irmão me emprestou! Só não sabia que a gente voltaria da viagem com 14 GB de fotos e vídeos! Mineiro na praia já é aquela coisa, ainda mais com um brinquedo desse!

 obs: Isso são algas!

Almoçamos na rodoviária... e foram mais de 6 horas de viagem até Manari... A conta certa pra gente fazer amizade com o Pedro, de 9 anos, peça rara - quase ficou em Manari com a gente, mas sua mãe vigiou pra ele não descer! Também ficamos amigos do Motorista da Viação Progresso. E logo que chegamos na pousada do Posto Geraldo, ficamos amigos da Helena e da Sueleide, e do segurança e do Dono do Posto! E, no outro dia, do policial que deu carona pra gente ir à feira da cidade ao lado. Do moço que buscou a gente na maior boa vontade e sem cobrar nada. Do Paulo Celso, das irmãs, sobrinhas, das crianças e adultos da oficina! Foi assim mesmo, fomos tão bem recebidos nesse Pernambuco que parecia que as pessoas já nos conheciam!

A oficina aconteceu no sábado, dia 23 de fevereiro, terceiro dia de viagem e primeiro dia em Manari. Foram mais de 30 pessoas na oficina, que além dos nossos jogos e exercícios também teve espaço pra frevo, forró e todo o “orgulho de ser nordestino” – Tema de uma foto dos alunos num exercício da oficina.



No domingo, segundo e último dia em Manari, acordamos cedo e Paulo Celso levou a gente pro Umbuzeiro, pra comer Umbu debaixo do pé. No caminho, a paisagem era a caatinga, que até então só conhecia dos livros de geografia e de filme. Lá no umbuzeiro tomamos ducha debaixo do pé e almoçamos carne de bode – eu não, porque fiquei com dó dos bodes do nosso lado esquerdo, pastando, ou melhor, rachando no sol! Logo tivemos que voltar pra cidade, pois a apresentação era no mesmo dia! Descansamos um pouco e já fomos pra praça montar nossa roda. O Sol tava de matar! E a apresentação, que estava marcada pra 17h, ficou pra depois do sol baixar...


A apresentação começou emocionante, com nosso lindo cortejo, junto com os participantes da oficina. Foi cantar e chorar ao mesmo tempo. Cada espetáculo é único, não se repete, pois acontece no presente, no calor do momento! Esse ainda foi mais especial, pois pela primeira vez a gente falava do sertão, no sertão, do nordestino, pro nordestino, da nossa criação pra cultura de onde tiramos sua inspiração! Percebemos, em Manari, um público um pouco diferente, bastante exigente, mas generoso também. Caloroso, batendo palmas toda música. Parecia que música era um botão de ligar palmas! Momentos de arrepiar! A música move a gente mesmo... E assim, levei Zé do Cangaço pro inferno e o espetáculo chegou no fim. Com ele, a viagem também estava terminando...

Ainda tivemos o privilégio de ter, depois do espetáculo, um grupo de senhorzinhos lá de Manari tocando forró, até com músicas próprias, e dedicando pra gente, pra gente trazer de volta pra Minas. Trouxemos!


A despedida foi triste, teve até choro. A Anair chora a toa mas, dessa vez, foi quase todo mundo! Acho que a gente nunca tinha passado por isso antes. De um lugar marcar tanto e mexer tanto com a gente. Uma sensação que não tinha sentido. E nem precisava falar nada.
Fato é que chegamos em Manari-PE preparados para encontrar “a cidade de menor IDH do Brasil”, assim a conhecíamos de longe. Mas, apesar das dificuldades da vida no sertão, de não chover pra valer desde novembro do ano retrasado, o que encontramos foi um povo de humanidade mais desenvolvida que já conhecemos.

Voltamos pra recife, com o mesmo motorista que nos levou! Com sua ajuda pudemos conhecer um pouquinho mais de recife, com direito a pôr-do-sol na beira da praia... Votamos pra pousada e ainda fomos na feirinha da igreja da Boa Viagem pra comprar lembrancinhas. Pro pai, mãe, irmão, cachorro, vó, sem nem lembrar do peso da bagagem mais! 

Na madrugada do dia 26, dia de voltar pra casa, quando as mensagens da Dani chegaram às 4 horas da manhã, chamando pra ver o sol nascer na praia, a cama parecia muito mais atraente! E pense: “que sol o que... sol nasce todo dia... é mesma coisa!” Não é que eu tava com tanto sono que acreditei nesse absurdo! Eita sono! Perdi um espetáculo! Pra dormir? Dormir que a gente dorme todo dia! Rsrs... 

A viagem foi curta, mas a gente fazia tanta coisa no mesmo dia e queria aproveitar tudo que dava, que uma semana pareceu um mês, pelo tanto que marcou e pela saudade que deixou.
Ainda to meio besta...


Por Kely de Oliveira:

QUINTA: 21/02/2013

Ansiedade, alegria e uma leve ponta de tristeza... Em menos de uma semana da linda estadia e apresentação na minha cidade natal viajar novamente com trabalho levar nossa arte para o mundo deveria ser só alegria, felicidade total, mas o Pooh meu cachorrinho de 14 anos está dodói, e talvez tenha que ir encontra Deus... Todavia, a satisfação de conhecer outro estado do qual já tínhamos nos apropriado de sua cultura e misturado com a nossa tem o poder de me excitar e me fazer esquecer por alguns instantes a dor que teima em apertar o peito... Voar é sempre gostoso, viajar é um dos maiores prazeres da minha vida, teatralizar é o maior, então só tenho a dizer: - obrigada Deus e seja feita a vossa vontade!
Tudo certo, aeroporto de Brasília, horas, conexão, almoço? Huuuuum... Choppinho primeiro... E o prazer só tende a aumentar... Rever velhos amigos que fazem questão de nos encontrar, choppinho... o prazer de misturar os velhos com os novos, nem tão novos assim, pois lá se vão quase seis anos já de caminhada, muitos, irmãos mesmo, como o velho irmão de alma, aí nem se pode falar em datas, já vai pra mais de dez anos, choppinho... Almoçar, o convite era esse... Mais um choppinho... E o tempo passa, com boa companhia e boa conversa ele voa... saideira? Com todo prazer! Desce o último!

Embarque pra Pernambuco. Falha na pressurização. Sei lá do que se trata, mas o bom é que o comandante descobriu antes de decolar! Alguns mais assustados, eu, de “pilequinho”, achando tudo muito divertido, depois de horas, construí uma caixinha que não aprendi em 3 anos, e voamos  no mesmo avião – ele foi consertado com a gente lá  a bordo e voou... Chegamos em segurança na linda Recife capital de Pernambuco, a pousada que nos hospedou mandou uma “caminhonetona” linda nos buscar no aeroporto, e quando chegamos na pousada os olhos brilharam, linda, linda!!! Com uma iluminação toda especial, assim como a bela decoração... Rápido, rápido! Tem só duas horinhas para conhecer Olinda... Vixi, feira da Boa Viagem, comer, comprar, descobrir ônibus, ir, voltar... E descobrimos que o calor de recife exala no seu povo, que é atencioso, te olha no olho, esbarra, para, pede desculpa e tem prazer em ajudar... Chegar a Olinda foi fácil e mágico... Bela... Encontramos nosso primeiro anjo, ah os velhos, olha eles aí de novo, feliz de quem os sabe manter, um brinde aos velhos amigos... Esta já inteirada da cidade conseguiu nos apresentar a bela em duas horas e pudemos sair de lá com gostinho de quero mais, mas satisfeitos pelo pouco tempo bem aproveitado... O mar, o mar, o mar... Teve que ficar para amanhã mesmo, Olinda tem um defeito, o mar poluído.  Puro prazer o primeiro dia, promete uma bela viagem, vou mimi pra acordar cedo e saudar o mar, o mar, o mar... Saudades de um par de olhos azuis... “... seus olhos azuis como à tarde, na tarde de um domingo azul...” Na verdade são verdes, mas precisava da música do Alceu pra fechar meu diário, e a cor é meio indefinida mesmo... Até!


 22/02/2013


Aaaah o mar... Me empurra minha mãe, e me carrega em teus braços!!! Salve Iemanjá!!! Foi só a manhã mesmo, mas valeu o dia, valeu a vida!!! 
Comida de rodoviária gostosa, é, parece que estou noutro mundo mesmo!!!
Horas de viagem, caminho do sertão, pequenos novos amigos, lindo Pedro me lembrou de meu par de olhos azuis, azuis como à tarde de um domingo azul, até no charme galanteador, rsrsr!!!
E a seca começa a se mostrar cada vez mais, bois mortos, vegetação de pouco verde... Nosso segundo anjo, o motorista do ônibus, nos deixou de frente ao hotel do posto que nos hospedará. Manari, a primeira vista surpreende com seu charme, linda praça que vai receber “O caboclo Zé Vigia”, bela construção de casinhas antigas nas redondezas da Igreja, já avistamos nossos cartazes por todos os lados. Ui, friozinho na barriga, medo de decepcionar no sotaque... Vamos dormir por que o forró rancheiro que prometia não passou de uma musica eletrônica, difícil de definir...

23/02/2013

Tempo livre, hora de aproveitar... Suco de cajá no café, ai, deu saudades de casa, no norte de Minas tem dessas frutas do sertão, aperto no peito, não consegui mais notícias do Pooh...
E vamos pra feira de Itaíba, é logo ali do lado, bem ali de mineiro... Animados, então vamos pegar carona, e o anjo reaparece e lamenta por não poder nos levar, não pode parar no trevo de Itaíba, o ônibus da progresso tem câmera... E o 1° carro para e leva, e o 2° para e ainda chega primeiro e oferece a volta, tudo certo... Estamos mesmo protegidos, chegamos, resolvemos o problema das pétalas, a tempo de almoçar ir para oficina, e ainda conhecer o espaço e o nosso grande anjo, sem ele não teríamos chegado tão tranquilos, grande Paulo Celso, nos recebeu com Umbu, caju e muita alegria!!! Aaaaah, a oficina M a R a Vi l H O s A, aproximadamente quarenta pessoas lindas, dispostas, orgulhosas de suas origens e de sua cultura, conscientes de suas realidades... Dilíça de sopa que é servida na ONG todo sábado pra criançada, me esbaldei... Ah, são tantos suspiros, o cortejo promete ser lindo de viver, a oficina lavou minha alma, recarregou minhas pilhas pra ter força vital pelo resto do na. Cansada e mangangada, é, esqueci de contar que fui picada por um mangangá, uma espécie de abelha que detonou meu braço. Dizem que dá até febre, tô até bem... num quis tomar nem anti alérgico, nem remédio pra dor, pra não ficar brochada... Mas a cervejinha aaah, e olha que tive até Cia, e ainda descobrimos um churrasquinho super delícia, achamos um gato na coleira, e váaaarios personagens, até a Frida do sertão... Por falta de comunicação meus olhos estão tristes lá em BH e me entristecendo do lado de cá... Como será que tá o Pooh??? Baterias de celulares nunca deveriam acabar em certas horas e momentos... Lei de Murphy!

24/02/2013



Café... Suco de cajá é a sensação da Tirana... Fomos para o umbuzeiro, um sítio da família do Paulo Celso... Pior que, a vista do sertão é linda, então vira melhor que... Plantações de melancia, e um pé de Umbu carregado, aaah subi! chupa melancia, chupa umbu... “Como é que pode umbu ser tão gostoso!” A Márcia ia delirar... Como será que tá o Pooh?! Aaaaah, os pequenos que cruzam nossos caminhos, a bela Gegê, esperta... Inspira, dá vontade de pedir pra Deus mandar a minha amanhã... Como será que estão meus olhos tristes?!
Banho de ducha com roupa e tudo, mais brincadeiras, e virou família, almoço carinhosamente e deliciosamente, servido em baixo do pé de umbu... Ai, se aproxima a hora da apresentação, voltar para o dormitório, organizar tudo e se preparar para o grande momento...
5 da tarde, sol rachando, ninguém sai de casa... Dois lindos companheirinhos disputam a ansiedade com a gente, nos aguardavam na hora certa... Preparação... Todos que participaram da oficina e estavam na praça disponíveis e sentem como se o espetáculo fosse deles. Ai ai, o figurino surpreendeu e agradou, e viva lampião!!! A atriz, acho que também agradou, foi o que disseram, mas de pessoas tão especiais... O espetáculo também, esse eu sei que agrada!!! E foi simplesmente perfeito, agora eu tenho coragem de apresentar até em inglês e com sotaque nordestino!!!


Presentes, o autentico forró nordestino saiu, da melhor qualidade... Despedidas, choro, apego, humano... Realização pessoal e profissional.
Depois da apresentação, o mangangá, mangangou de vez, dóooi que só vendo. Acho que relaxei, deu tudo certo o que viemos cumprir, então agora posso brochá... Agradeço a atenção, preocupação e carinho dos meus companheiros de trabalho, cuidaram direitinho de mim... Parcialmente esclarecido, mas meus olhos azuis ainda encontram-se um pouco embaçados lá nas Minas Gerais, e os meus apesar de encantados e casados continuam um pouco turvos com essa situação... Foi um dos melhores sanduíches que comi na vida esse que desenterramos depois da apresentação... Acho que dormi, se não morri...

25/02/2013
Nosso anjo nos guia de volta a Recife, nos ajuda a aproveitar nosso tempo livre, nos colocando nas mãos de outro anjo, assim tivemos a oportunidade de conhecermos mais lugares lindos da região... De volta à bela e aconchegante pousada é hora de em 10 min desbravar a feira da Boa Viagem, compras, cansaço, diversão... Mas depois de banho de lua cheia e banho de mar em águas cristalinas, tô pronta para o que der e vier...
Meu par de olhos azuis voltou a ser azuis como à tarde de um domingo azul, e digo que aquela lua cheia e aquele mar cristalino seriam ainda mais bonitos se eles estivessem fisicamente ao meu lado...
Dormir para amanhã presenciar mais um espetáculo, reunir forças e voltar à realidade...

26/02/2013

4:30 praia da Boa Viagem, nascer do sol, espetáculo de vida! Banho de mar involuntário... Banho de vida... Feliz, feliz, feliz!!!! Café tipicamente nordestino com tapioca e cuscuz e despedida do mar, das águas quentes do Recife... Certa angustia latente, como será que tá o Pooh? Preocupação, será que magoei uma das companheiras mais queridas de trabalho? Últimas compras, guloseimas pernambucanas para ajudar a matar a saudade do nordeste nas Minas Gerais... Chegada a Confins, sãos e salvos... Fomos e voltamos vivos e inteiros do Recife (queria desenhar um tubarãozinho agora)... Gentileza de nossas famílias, fomos resgatados pelo Vinícius, que com bom humor nos trouxe do aeroporto num trânsito estressante... Nem cheguei e a nostalgia já me toma... Difícil ainda de dizer tudo que foi esta experiência, sem dúvida uma das mais importantes da minha vida!!! Vou digerir ainda, e fica um gostinho de quero mais e a esperança de me encontrar de novo com aquele mar, aquela lua, aquele sertão, aquele povo...
Pra consolar, a alegria de olhar nos olhos, naqueles olhos que de tão verdes se tornaram azuis como à tarde de um domingo azul, e se sentir bem vinda!!!
Pra fechar meu diário de bordo, não podia faltar: Você se lembra da moça bonita da praia de Boa Viagem?! Pois é, sou eu, pergunta pro Alceu!!!


Por Juliene Lellis:

Bem, acho que essa viagem começou no dia em que saiu o resultado do prêmio. Naquele momento já era uma correria na compra das passagens (avião e ônibus), de como chagar lá, de pesquisa sobre de como era a cidade de Manari-PE, busca no Google Maps, contatos na cidade, ufa! Enfim, compradas às passagens e feitos contatos com o nosso querido Paulo Celso da ONG Oásis o tempo era de espera muito ansiosa para o tão esperado dia 21/02/2013. 

Quinta-feira 21/02/2013 Belo Horizonte- Minas Gerais aeroporto de Confins, ás 9 h todos (até a Laurinda, nossa lona, que estava de roupa nova) prontos para o check-in muito ansiosos para embarcar para Pernambuco. Eram 10 h da manhã e tudo pronto, embarcamos rumo á Brasília (conexão) e ali ficamos por algumas horas aumentando ainda mais a ansiedade, 4 h depois embarcamos para Recife-Pe e três horas e meia estávamos desembarcando no aeroporto Guararapes, já no saguão pedíamos sentir o calor da cidade. Esperamos o taxi, loucos para chegar ao hotel, e no caminho ficávamos fazendo inúmeras perguntas ao motorista sobre a cidade e seus pontos turísticos (ele deve ter pensado: Eita, mineiro é tudo confuso!).

Passamos uma noite em Recife e pela manhã organizamos as coisas para irmos para Manari sertão de Pernambuco. A viagem de ônibus durou cerca de 6 horas, já no ônibus ficamos impressionados com a simpatia, a graça e a educação do povo pernambucano. Passamos pelo agreste e enfim, chegamos ao sertão já á noite, deixamos nossas malas e fomo conhecer a cidade, andamos pela praça que era muito bonita e vimos nosso cartaz pregado em vários pontos da mesma... nossa mãe, ficamos felizes demais!

 

No dia seguinte encontramos com o um dos organizadores da ONG que nos acolheu com todo o carinho e dedicação. Ah! Não posso me esquecer de dizer que quando chegamos à ONG tinha simplesmente uma bacia gigante cheia de Umbu, Seriguela e Caju só para a Tirana, gente ficamos que nem pinto no lixo! rs. Mais tarde demos oficina, que foi uma experiência extraordinária para todos nós Tiranos, ficávamos maravilhados com a riqueza de cultura daquele povo, com a alegria deles poderem nos mostrar o que eles sabem fazer...sem explicação!

No dia seguinte, fomos gentilmente convidados a irmos conhecer o pé de umbuzeiro, que é lindo, e estava carregadinho, e mais uma vez nos esbaldamos. Fomos para o hotel a fim de organizamos a apresentação. Às 17h, horário marcado para inicio do espetáculo, o sol estava rachando o coco e tivemos a notícia de que o povo só sai de casa depois que o sol baixa, então, esperamos a gentileza de nosso astro rei para começarmos o espetáculo

Acho que esse foi o momento mais “vivo” da minha vida. Os meninos da oficina estavam lá e compuseram o nosso cortejo. Rezamos e agradecemos por toda aquele momento... a hora chegou, organizamos o cortejo e seguimos andando pela praça, eram tão forte aqueles vozes juntas em coro e tinha uma energia tão viva que ficou impossível segurar as lágrimas... eu entendi ali, naquele momento o sentido der atriz! A apresentação começou e a fizemos com toda e vida que há em nós e foi tudo lindo! No fim, fomos presenteados com o autentico forró nordestino. Antes de irmos embora para o hotel, ficamos emocionados com o carinho das crianças que quase não deixaram a Dani ir embora... coisa mais linda!
“Embarca morena embarca, molha o pé, mas não molha as meia / Viemos de outras terras fazer barulho em terra alheia”....

Essa terra alheia me surpreendeu... mais do que só dar uma oficina, foi troca de experiências de vida! Mais do que apresentar o espetáculo foi o sentido de descobrir o sentido do meu oficio!
Eu até hoje estou assim pasma, pois um povo que não vê a chuva a mais de dois anos, e isso fez chover no coração!