(foto: Vinícius Castro)
Ainda me recordo com frescor a noite
que passei a madrugada na fila para comprar os meu primeiros ingressos do
FIT (Festival Interacional de Teatro de BH), Bruno Pontes e eu (Anair), alunos do 1º
ano do Teatro Universitário. Era uma noite fria e ficamos aguardando na
portaria do Parque Municipal o horário da bilheteria abrir. Conseguimos!
Compramos todos os ingressos para assistir os espetáculos que queríamos. Meus
olhos vidrados, atentos e brilhantes, feito criança quando ganha presente,
acompanhavam cada movimentação nos palcos e ruas. Anotava em meu caderno todas
as impressões e colava o canhoto do ingresso. Pensava: Um dia eu ainda vou ser
assim!
E a bela trajetória no T.U nos levou
a criar um trabalho cênico baseado na literatura de cordel e a participar
com esse trabalho dos festivais FETO e EMcomodo, surgiu assim a
Tirana Cia de Teatro. Após a formatura continuamos com o “O Caboclo Zé
Vigia”, eita! Fizemos bazar para pagar as passagens que nos levariam ao
Encontro Nacional de Teatro de Rua em Angra dos Reis, colamos figurino com cola
quente por que a grana estava curta, enfeitamos uma camisola de fita para
compor o figurino do anjo. E fomos pela primeira vez pra terras distantes de
BH. Muito tempo passado, compramos “Laurinda”, uma lona furada, aliás furos com
uma lona, mas, recuperar, lavar, emendar, pintar, cortar e colá-la, isso pra
gente era uma festa! Conseguimos comprar uma lona! Conseguimos chamar Fabíola
Rosa para desenhar o figurino e dessa vez Zé Vigia, Salomé, Zé do Cangaço
e Chico Doido calçaram os pés. Muita alegria! Podemos contar com apoio de
Débora na filmagem da peça no Parque Municipal. Fomos pra outros cantos e fomos
aplaudidos em Curitiba, voltamos ao Rio de Janeiro, brincamos muito no Vale do
Jequitinhonha, Vale do Rio Doce e Vale do Aço. E assim, voamos pra Pernambuco e
Ceará, mas a maior de todas essas conquistas foi do Fit participar.
Sim! Me lembrei de meus pais que
sempre me motivaram, dos professores que me cobravam, dos amigos que ajudaram e
me lembrei daquela sensação que brincava em todo meu corpo e saltava aos olhos
quando eu, aluna de teatro, assistia ao Fit pela primeira vez. Hoje a Tirana
faz parte da programação desse festival que tanto me encantou e incentivou. Esse
ano, ainda teve um quê de novidade, pois o Fit não estava só na região central
de BH e bairros “privilegiados”, mas chegou também em Venda Nova, com o nosso
espetáculo e vários outros. A sensação é de estar no terreiro de casa de novo,
mostrando pra o povo acolhedor e participativo do Cras Jaqueline e do bairro
Serra Verde um pouco das músicas populares brasileiras, do verso rimado da
literatura de cordel e das danças populares de nosso país...
Mas é claro que nem tudo é perfeito
como nos meus sonhos de atriz. Na Praça do Encontro, bairro Serra Verde, nossa
lona ficou tímida no meio daquela praça tão grande. Onde estavam as pessoas
dali? Ainda chegariam? Chegaram alguns, poucos, foram se acomodando e o
espetáculo começou com o mesmo vigor de sempre. Mas não há como negar uma
pitada de frustração em não ver a roda cheia como no dia anterior, no Bairro
Jaqueline, e como de costume. Um pesar talvez, mas não por simples vaidade, e sim
porque a Tirana tem aquela velha utopia do artista de rua, de ir a onde o povo
está, de chegar em todo tipo de público. E estar apresentando ali, sendo parte da
programação do Fit, era como fazer parte dessa mudança. Mas, por mais que não
tenha sido como desejávamos, seja pela falta de divulgação, seja pela falta de
interesse das pessoas, seja por outros problemas ainda muito mais complexos, existe
uma vontade, um desejo de melhoria na chamada “democratização” da arte e
cultura, e é preciso paciência…
O importante é continuar sonhando e rodando,
e fazendo nosso teatro pra toda gente, e assim ver também nos olhos de alguma
daquelas pessoas a mesma vontade que um dia eu tive de estar atuando ali, no
FIT... Ah, só queria que meu pai e minha mãe pudessem estar ali. Aiiii que bom! Minha mãe
chegou! Pai, venha na próxima? Obrigada meus
queridos.
Anair e Luciana
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