3 de jun. de 2014

Na fita do FIT...

(foto: Vinícius Castro)

Ainda me recordo com frescor a noite que passei a madrugada na fila para comprar os meu primeiros ingressos do FIT (Festival Interacional de Teatro de BH), Bruno Pontes e eu (Anair), alunos do 1º ano do Teatro Universitário. Era uma noite fria e ficamos aguardando na portaria do Parque Municipal o horário da bilheteria abrir. Conseguimos! Compramos todos os ingressos para assistir os espetáculos que queríamos. Meus olhos vidrados, atentos e brilhantes, feito criança quando ganha presente, acompanhavam cada movimentação nos palcos e ruas. Anotava em meu caderno todas as impressões e colava o canhoto do ingresso. Pensava: Um dia eu ainda vou ser assim!

E a bela trajetória no T.U nos levou a criar um trabalho cênico baseado na literatura de cordel e a participar com esse trabalho  dos festivais  FETO e EMcomodo, surgiu assim a Tirana Cia de Teatro. Após a formatura continuamos com o  “O Caboclo Zé Vigia”, eita! Fizemos bazar para pagar as passagens que nos levariam ao Encontro Nacional de Teatro de Rua em Angra dos Reis, colamos figurino com cola quente por que a grana estava curta, enfeitamos uma camisola de fita para compor o figurino do anjo. E fomos pela primeira vez pra terras distantes de BH. Muito tempo passado, compramos “Laurinda”, uma lona furada, aliás furos com uma lona, mas, recuperar, lavar, emendar, pintar, cortar e colá-la, isso pra gente era uma festa! Conseguimos comprar uma lona! Conseguimos chamar Fabíola Rosa para desenhar o figurino e dessa vez  Zé Vigia, Salomé, Zé do Cangaço  e Chico Doido calçaram os pés. Muita alegria! Podemos contar com apoio de Débora na filmagem da peça no Parque Municipal. Fomos pra outros cantos e fomos aplaudidos em Curitiba, voltamos ao Rio de Janeiro, brincamos muito no Vale do Jequitinhonha, Vale do Rio Doce e Vale do Aço. E assim, voamos pra Pernambuco e Ceará, mas a maior de todas essas conquistas foi do Fit participar.

Sim! Me lembrei de meus pais que sempre me motivaram, dos professores que me cobravam, dos amigos que ajudaram e me lembrei daquela sensação que brincava em todo meu corpo e saltava aos olhos quando eu, aluna de teatro, assistia ao Fit pela primeira vez. Hoje a Tirana faz parte da programação desse festival que tanto me encantou e incentivou. Esse ano, ainda teve um quê de novidade, pois o Fit não estava só na região central de BH e bairros “privilegiados”, mas chegou também em Venda Nova, com o nosso espetáculo e vários outros. A sensação é de estar no terreiro de casa de novo, mostrando pra o povo acolhedor e participativo do Cras Jaqueline e do bairro Serra Verde um pouco das músicas populares brasileiras, do verso rimado da literatura de cordel e das danças populares de nosso país...

Mas é claro que nem tudo é perfeito como nos meus sonhos de atriz. Na Praça do Encontro, bairro Serra Verde, nossa lona ficou tímida no meio daquela praça tão grande. Onde estavam as pessoas dali? Ainda chegariam? Chegaram alguns, poucos, foram se acomodando e o espetáculo começou com o mesmo vigor de sempre. Mas não há como negar uma pitada de frustração em não ver a roda cheia como no dia anterior, no Bairro Jaqueline, e como de costume. Um pesar talvez, mas não por simples vaidade, e sim porque a Tirana tem aquela velha utopia do artista de rua, de ir a onde o povo está, de chegar em todo tipo de público. E estar apresentando ali, sendo parte da programação do Fit, era como fazer parte dessa mudança. Mas, por mais que não tenha sido como desejávamos, seja pela falta de divulgação, seja pela falta de interesse das pessoas, seja por outros problemas ainda muito mais complexos, existe uma vontade, um desejo de melhoria na chamada “democratização” da arte e cultura, e é preciso paciência…


O importante é continuar sonhando e rodando, e fazendo nosso teatro pra toda gente, e assim ver também nos olhos de alguma daquelas pessoas a mesma vontade que um dia eu tive de estar atuando ali, no FIT... Ah, só queria que meu pai e minha mãe pudessem estar ali. Aiiii que bom! Minha mãe chegou! Pai, venha na próxima? Obrigada meus queridos.

Anair e Luciana

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